sexta-feira, 21 de março de 2008

"If I had my own world
I'd build you an empire

From here to the farlands

To spread love like violence (...)"

Angels & Airwaves - Secret Crowds

Quando a gente é criança, tudo é mais fácil – apesar de, na idade, achamos tudo muito complicado e difícil. Não há problemas, não há preocupações com o futuro, ir à escola não é tão ruim assim. O importante sempre é ter alguém, o que e um lugar para brincar. Vendo algumas fotos antigas, pude perceber o quão era feliz nesta época. Sinto que aproveitei o máximo, brinquei de tudo que tinha que brincar, briguei, me machuquei, ri, chorei. Enfim, fui criança. Confesso-lhes que me deu uma pontinha de saudades dessa época em que o maior problema era “porque que o céu o azul”. Tantas perguntas, tantos porquês e tantas respostas absurdas vindas de nossos pais. O medo de não ter apetite e de não comer a comida toda, o que provavelmente resultaria num grito vindo dos pais. O medo de a bruxa vir roubar minha mamadeira e minha chupeta. Época de descobertas, de fazer besteiras, de aprendizado. Acho que toda criança deveria passar por isso. Toda criança deveria ser criança. É um sentimento que passa por toda a nossa vida, nos fazendo rir, sempre.
Não digo que gostaria de voltar atrás, porque se acontecesse, acho que não seria tão mágico e único como foi. Posso até arriscar que foi a melhor fase da minha vida – de que me lembro -, até hoje. O que me faz mais falta é a facilidade de fazer amizades. Um dia desses, eu estava conversando com uma amiga sobre pessoas que hoje não são tão chegadas a mim como na minha infância eram. Saudades de amigas que se mudaram pra longe, saudades de brincar de boneca, de vestir os bebês, de não pensar tanto e se preocupar tanto. Saudades da cumplicidade, da pureza, da criatividade e imaginação. Das idéias mirabolantes e dos sonhos mais singelos. Saudade dos chamegos dos pais, aquela super-atenção, aquela preocupação absurda – que até hoje alguns ainda insistem. Saudades até das varas de goiaba, das ameaças e caras-feias dos pais. A única coisa que acontece muito nessa fase da vida, que não faço a mínima questão de passar de novo são as mãos das tias apertando nossas bochechas e dos tios enchendo-nos de beijos com aquelas barbas espetando e bigodes sujos de cerveja.
Vovó, vovô. Vovô, vovó. Saudades de ir todo final de semana pro sítio e pular na cachoeira, mas sem afundar por causa das bóias – lembra-se? Aquelas de bichinhos, carrinhos e bonequinhas. Saudades da família toda reunida, de ter que esperar meia hora pra poder voltar a correr e nadar. De ganhar doces e biscoitos toda vez que recebia uma visita dos velhinhos. Saudades da união, da ingenuidade e do espírito esportivo. Primos e primas, todos reunidos. Bananeiras de baixo d’água, brincando de “Titanic” e “Tubarão”.
Saudades de tanta coisa, tanta coisa que não mais volta. Nunca vai voltar. Agora sinto falta do que passou e anseio freneticamente pelo que está por vir. Será que valeria mesmo a pena voltar no tempo ou ir direto ao futuro? Será que teria graça saber o que você estaria fazendo daqui a 20 anos? Estar-se-ia trabalhando numa empresa ou numa lanchonete? Casado, solteiro, cinco filhos? Ao pensar em todas essas hipóteses e sugestões, sugeri a mim mesmo que não pensasse mais nisso. Que aproveitasse esta fase agora da minha vida, porque como sinto falta daquela hoje, sentirei desta mais pra frente. E mesmo que não fosse assim, “máquinas do tempo” só existem em filmes. O jeito e viver nossa vida e esperar pelo futuro; relembrando o passado, os erros; e cuidando para que eles não sejam repetidos mais tarde.

O conselho que lhe dou é este. E é o que vou seguir também. Talvez eu esteja errada em não me preocupar mais. Talvez se preocupar seja o certo. Talvez seguir o caminho sem errar seja o correto. Talvez errar durante o caminho seja necessário. Talvez todos esses talvez não fossem tão importantes. Talvez a vida seja só para ser vivida e lembrada naqueles momentos nostálgicos de frente para a lareira revendo fotos. Apenas viva. Viva para ser feliz e fazer quem te ama feliz. Porque o amor é necessário, com ou sem “talvez”.