"If I had my own world
I'd build you an empire
From here to the farlands
To spread love like violence (...)"
I'd build you an empire
From here to the farlands
To spread love like violence (...)"
Angels & Airwaves - Secret Crowds
Quando a gente é criança, tudo é mais fácil – apesar de, na idade, achamos tudo muito complicado e difícil. Não há problemas, não há preocupações com o futuro, ir à escola não é tão ruim assim. O importante sempre é ter alguém, o que e um lugar para brincar. Vendo algumas fotos antigas, pude perceber o quão era feliz nesta época. Sinto que aproveitei o máximo, brinquei de tudo que tinha que brincar, briguei, me machuquei, ri, chorei. Enfim, fui criança. Confesso-lhes que me deu uma pontinha de saudades dessa época em que o maior problema era “porque que o céu o azul”. Tantas perguntas, tantos porquês e tantas respostas absurdas vindas de nossos pais. O medo de não ter apetite e de não comer a comida toda, o que provavelmente resultaria num grito vindo dos pais. O medo de a bruxa vir roubar minha mamadeira e minha chupeta. Época de descobertas, de fazer besteiras, de aprendizado. Acho que toda criança deveria passar por isso. Toda criança deveria ser criança. É um sentimento que passa por toda a nossa vida, nos fazendo rir, sempre.
Não digo que gostaria de voltar atrás, porque se acontecesse, acho que não seria tão mágico e único como foi. Posso até arriscar que foi a melhor fase da minha vida – de que me lembro -, até hoje. O que me faz mais falta é a facilidade de fazer amizades. Um dia desses, eu estava conversando com uma amiga sobre pessoas que hoje não são tão chegadas a mim como na minha infância eram. Saudades de amigas que se mudaram pra longe, saudades de brincar de boneca, de vestir os bebês, de não pensar tanto e se preocupar tanto. Saudades da cumplicidade, da pureza, da criatividade e imaginação. Das idéias mirabolantes e dos sonhos mais singelos. Saudade dos chamegos dos pais, aquela super-atenção, aquela preocupação absurda – que até hoje alguns ainda insistem. Saudades até das varas de goiaba, das ameaças e caras-feias dos pais. A única coisa que acontece muito nessa fase da vida, que não faço a mínima questão de passar de novo são as mãos das tias apertando nossas bochechas e dos tios enchendo-nos de beijos com aquelas barbas espetando e bigodes sujos de cerveja.
Vovó, vovô. Vovô, vovó. Saudades de ir todo final de semana pro sítio e pular na cachoeira, mas sem afundar por causa das bóias – lembra-se? Aquelas de bichinhos, carrinhos e bonequinhas. Saudades da família toda reunida, de ter que esperar meia hora pra poder voltar a correr e nadar. De ganhar doces e biscoitos toda vez que recebia uma visita dos velhinhos. Saudades da união, da ingenuidade e do espírito esportivo. Primos e primas, todos reunidos. Bananeiras de baixo d’água, brincando de “Titanic” e “Tubarão”.
Saudades de tanta coisa, tanta coisa que não mais volta. Nunca vai voltar. Agora sinto falta do que passou e anseio freneticamente pelo que está por vir. Será que valeria mesmo a pena voltar no tempo ou ir direto ao futuro? Será que teria graça saber o que você estaria fazendo daqui a 20 anos? Estar-se-ia trabalhando numa empresa ou numa lanchonete? Casado, solteiro, cinco filhos? Ao pensar em todas essas hipóteses e sugestões, sugeri a mim mesmo que não pensasse mais nisso. Que aproveitasse esta fase agora da minha vida, porque como sinto falta daquela hoje, sentirei desta mais pra frente. E mesmo que não fosse assim, “máquinas do tempo” só existem em filmes. O jeito e viver nossa vida e esperar pelo futuro; relembrando o passado, os erros; e cuidando para que eles não sejam repetidos mais tarde.
O conselho que lhe dou é este. E é o que vou seguir também. Talvez eu esteja errada em não me preocupar mais. Talvez se preocupar seja o certo. Talvez seguir o caminho sem errar seja o correto. Talvez errar durante o caminho seja necessário. Talvez todos esses talvez não fossem tão importantes. Talvez a vida seja só para ser vivida e lembrada naqueles momentos nostálgicos de frente para a lareira revendo fotos. Apenas viva. Viva para ser feliz e fazer quem te ama feliz. Porque o amor é necessário, com ou sem “talvez”.